Filho e neto de pastores batistas negros, Martin
Luther King nasceu em Atlanta, capital do Estado norte-americano da Geórgia, em
1929. Foi o mais notável defensor cristão de mudanças sociais por vias
não-violentas dos Estados Unidos. Fez teologia no Seminário Teológico Crozer e
obteve o grau de doutor em Filosofia pela Universidade de Boston, após defender
uma tese sobre o teólogo alemão naturalizado americano Paul Tillich, de quem
foi contemporâneo até 1965.
Desde os 20 anos admirador e estudioso do famoso
pacifista indiano Mahatma Gandhi, assassinado em 1948, aos 79 anos, Luther
King, no início de seu pastorado à frente da Igreja Batista da Avenida Dexter,
em Montgomery, no Alabama, soube que uma tal de Rosa Parks, negra, havia sido
presa por assentar-se na parte da frente de um ônibus, reservada por lei aos
brancos. A essa altura, King já não se conformava com a discriminação salarial
dos operários negros, que recebiam menos que os brancos embora fazendo o mesmo
trabalho. Então partiu para a sagrada luta pela igualdade social, organizando
um bem-sucedido boicote ao sistema de transportes urbanos. Afinal, a maioria
dos usuários de ônibus eram negros. Certos de que “era mais honroso andar pelas
ruas com dignidade do que andar de ônibus e serem humilhados”, os negros, ao
fim de um ano, venceram a batalha da segregação.
Em 1957, com 28 anos apenas, King organizou a
Conferência Sulista de Liderança Cristã e começou a viajar pelas cidades do sul
(Jackson, Selma, Meridian e Birmingham). Tornou-se conhecido em todo país e no
exterior no início da década de 1960. Em 1963 foi preso por ter liderado uma
marcha de protesto em Birmingham. Em sua Carta de Uma Prisão, King denunciou:
“A injustiça em qualquer lugar ameaça a justiça em todo lugar”. Alertado por
alguns conservadores de que deveria caminhar mais devagar, respondeu: “Quando
você for acossado durante o dia e assombrado à noite simplesmente pelo fato de
ser negro, e tiver de andar continuamente pisando em ovos, sem nunca saber o
que esperar, além de ser incomodado por temores interiores e ressentimentos
exteriores — então você entenderá por que achamos difícil esperar”.
Seu mais notável feito foi a chamada Marcha sobre
Washington, realizada em agosto de 1963, com a participação de mais de 200 mil
pessoas. Nessa ocasião, pregou o seu mais conhecido sermão:
“Eu tenho um sonho. Um dia, meus quatro filhos vão
viver num país onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo seu
caráter... Com esta fé, seremos capazes de extrair da montanha do desespero a
pedra da esperança. Com esta fé, seremos capazes de transformar as contendas
desarmoniosas de nossa nação em uma maravilhosa sinfonia de irmandade. Com esta
fé, seremos capazes de trabalhar juntos, orar juntos... na certeza de que um
dia seremos livres”.
O sonho de King começou a se cumprir no ano
seguinte (1964) com a aprovação da Lei de Direitos Civis. Nesse mesmo ano,
recebeu o prêmio Nobel da Paz. Em 1965, a Lei de Direito ao Voto foi aprovada
pelo Congresso. Nessa ocasião, King declarou que “injustiça social, racismo,
pobreza e guerra estão indissoluvelmente unidos”.
Apoiado a princípio apenas pelos ministros
protestantes negros, entre eles Jesse Jackson, em pouco tempo King passou a ter
o apoio de brancos, católicos e judeus. Alguns dos seus principais oponentes
também eram evangélicos.
No dia 4 de abril de 1968, Martin Luther King,
menos de três meses depois de completar 39 anos, enquanto conversava com alguns
amigos no corredor de um hotel em Memphis, no Tenessee, onde estava em apoio a
uma greve dos coletores de lixo, foi mortalmente alvejado por um opositor. Teve
a mesma sorte de Mahatma Gandhi, porém viveu apenas metade do tempo que viveu o
pacifista indiano.
Nota:
Artigo publicado originalmente na revista
Ultimato 289 (julho-agosto 2004).
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